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Seja educado, cinema é lugar sagrado

terça-feira, 24 de julho de 2007

"BAIXIO DAS BESTAS" NOVO FILME DE CLÁUDIO ASSIS







Sinopse


O Baixio das Bestas é o lugar símbolo das confluências humanas. Uma pequena comunidade entranhada dentro de uma cultura secular e paralisada em sua autoridade e em sua moral: a decadente cultura latifundiária. Pequenos centros urbanos que cercam o nosso vilarejo irradiam a idéia de futuro. Uma tosca idéia de possibilidades. Um pobre conceito de riqueza.

Nesse cenário se passa a história de Auxiliadora, Seu Heitor e Cícero. Ela, uma menina de 13 anos explorada pelo velho avô, Seu Heitor, um moralista ambíguo, que em tudo vê falta de autoridade mas ganha dinheiro explorando sua neta. Por sua vez, Cícero, um jovem de uma conhecida família local, que assiste ao drama de Auxiliadora e cria por ela uma paixão insustentável.

Do enfrentamento de Seu Mário e Cícero será decidido o destino de Auxiliadora. A menina de olhos brilhantes e encabulados que está no meio da disputa. Qual a saída? Qual o desejo?

Armando uma arena de combate no meio do canavial, o Baixio das Bestas serve como centro nervoso da ação. Aqui o que interessa não é constatar uma situação, mas problematizar as relações e sugerir narrativas a partir delas. É humanizar as questões e aprofundar o cotidiano desse núcleo. É dimensionar a existência além da aparência das coisas e fraturar a cômoda situação de espectador passivo diante dos fatos.




O profeta da degradação




Cláudio Assis, autor de 'Baixio das Bestas', diz que cinema não é só para se comer pipoca e beber Coca-Cola

Márcia Carvalho
Da Redação

Em torno de um engenho de cana desativado, uma adolescente é explorada sexualmente pelo avô, enquanto jovens da classe média do local se reúnem num cinema abandonado para barbarizar mulheres. O cenário de decadência e estagnação determina a ação dos personagens de Baixio das Bestas, que estréia hoje em Belém, às 20h30, no Cine Estação. Entre eles está a paraense Dira Paes, que interpreta uma prostituta, e ainda Caio Blat e Matheus Nachtergaele. O filme é de Cláudio Assis, o Lampião do cinema brasileiro. Indigesto, provocativo e não afeito a regras, o diretor pernambucano agitou o cenário do cinema nacional quando estreou em 'Amarelo Manga' (2002), anti-cartão postal de Recife com personagens atípicos, mas impregnados de realidade.

Na próxima semana, Cláudio Assis começa a filmar o documentário 'Eu vou de volta', sobre famílias que se iludem e embarcam rumo ao Sul Maravilha. 'Vamos acompanhar pessoas ainda iludidas, e outras desiludidas', antecipa o cineasta em entrevista exclusiva, por telefone, do Rio de Janeiro. Em 2008 será a vez da ficção 'Febre do Rato', sobre os poetas marginais, fechando sua trilogia iniciada com 'Amarelo Manga', que conquistou cerca de 40 prêmios. Polêmicas à parte, 'Baixio das Bestas' já tem seis vitórias, no Brasil e no exterior. Se o mundo não tem mais remédio, Cláudio Assis é o profeta da degradação humana.

Diretor diz que persegue a reflexão

Para pensar - Cláudio Assis contesta críticas de que criou um fetiche da violência brasileira

Quem não quer se molhar, não sai na chuva', diz Cláudio Assis, ao responder às críticas dos que o rotulam como um cineasta da sordidez brasileira.

No novíssimo cinema brasileiro, o desencanto venceu a esperança?
Como desencanto? Num País em que o presidente do Congresso é ladrão comprovadamente, o irmão do presidente fica impune... Não tem desencanto, é a realidade. 'Baixio das Bestas' é um filme atualíssimo. Você viu o que os garotos da Barra da Tijuca fizeram? São os agroboys, é assim que acontece. Não tem desencanto, não tem nada, é a vida. Ou a gente reage ou está fadado a ver nossas famílias se f...

O crítico Ismail Xavier qualificou o filme como 'uma estação no inferno', mas as imagens têm uma beleza extraordinária. Qual a contribuição do diretor de fotografia Walter Carvalho?
Sempre trabalhei com o Walter Carvalho. Ele contribui tanto de uma forma técnica quanto intelectual. É importante o olhar do fotógrafo, assim como a presença do ator. É um conjunto de coisas que a gente preza. Sem dúvida, ele é um grande parceiro, quem trabalha com ele sabe disso. E num filme como 'Baixio', que é uma opção mais radical, de querer fazer, mais do que uma estética qualquer, vale a relação de amigos mesmo.

Em Brasília, onde o filme saiu vencedor, houve aplausos e vaias. 'Baixio' é mesmo um filme sem meio-termo?
É um filme para se pensar, não é um filme de triângulo amoroso. Hoje o cinema brasileiro está viciado em triângulo amoroso. A Globo Filmes pede isso, quer que se faça. A vaia não é culpa dessas pessoas, mas de todo um sistema que favorece isso, que deseduca o olhar. As pessoas não têm paciência, acham que cinema é só para comer pipoca e beber Coca-Cola. Filmes como 'Baixio' e 'Cão sem Dono' fazem com que as pessoas pensem. Cinema é pra gente refletir sobre nós mesmos, para que a gente mude. É como um livro, um poema. Mas acho ótimo que tenha vaias, o filme não foi feito para agradar todo mundo. Acho que hoje não existe mais cinema de arte, como fizeram Felinni, Pasolini, Bergman, Buñuel. O que existe é uma deseducação da platéia - e no Brasil mais ainda, onde o cinema custa de R$ 18 a R$ 20. Então mesmo quem quer se educar não tem condições. Infelizmente essa é a nossa realidade.

Como você responde às críticas de que fetichizou a violência?
Isso é conversa! Estivemos há 15 dias no Recife, onde o filme está em cartaz há sete semanas, para um debate com organizações governamentais e não-governamentais, como Conselho Tutelar, Casa de Passagem, e foi sensacional. Elas pediram que eu cedesse o filme para debate nas comunidades da periferia. Pra que resposta melhor? Esses idiotas maltratam as mulheres e depois ficam me acusando. Estou denunciando e eu sou o réu? (risadas). Que engraçado!

A crítica o vê como o melhor cineasta brasileiro especializado em personagens e situações sórdidas. Você não tem medo de ficar rotulado?
Eu não tenho medo, não. Quem não quer se molhar não sai na chuva. Estou falando de uma coisa verdadeira, na qual eu acredito, os atores acreditam, as pessoas sérias e honestas acreditam e respeitam. Não quero agradar, fazer concessão. Se você não tem personalidade, não encontra respeito. No cinema não tenho medo de nada e nem de ninguém. Que me rotulem! Um dia vão perceber que são idiotas.

Dira Paes também esteve em 'Amarelo Manga' e agora em 'Baixio'. Qual a sua relação com a atriz?
Você já viu a Rolling Stone dessa semana? Tem uma entrevista com ela, linda e maravilhosa. A Dira é uma deusa, que representa a mulher brasileira de forma belíssima. É uma pessoa verdadeira, inteligente, muito séria e de uma generosidade maravilhosa, que vai fundo no personagem. Ela fez uma crente em 'Amarelo' e agora uma prostituta em 'Baixio'. Amo as duas, não sei qual é a mais linda. Só tenho elogios para a Dira, sou até suspeito para falar.

Você defende a criação de salas de cinema menores, na periferia, para a exibição de filmes que não se encaixam no circuitão comercial. Acredita que o governo Lula fará isso?
Só não faz se for bobo. Se não fizer a gente vota no Morales (risos). Tem que ter alguém de coragem que faça cinema a R$ 1. Não dá para continuar assim, com três filmes ocupando 80% das salas. 'Homem-Aranha 3' expulsou 'Baixio', expulsou 'Cartola' e diversos filmes brasileiros. Aqui não tem dono da casa. Veja o BNDES incentivando sala de cinema de shopping center. Quem ganha R$ 350 não vai nesse cinema e está certíssimo em comprar DVD pirata, porque você compra o filme a R$ 5 e ele é teu. No Brasil somos forçados a fazer isso, somos forçados a ser escrotos.

Serviço: 'Baixio das Bestas', de Cláudio Assis (18 anos). EM CARTAZ NO MAG SHOPPING SALA 01 EM JOÃO PESSOA




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