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terça-feira, 5 de junho de 2007

O CINEMA NA PARAIBA




A exemplo de outros estados, o cinema chegou à Paraíba trazido por um ambulante europeu. Nicola Maria Parente realizou as primeiras projeções em agosto de 1897, na capital do Estado, durante a tradicional Festa das Neves. Em 1902, Mário Quineau, diretor da empresa Nordeste Brasil, passou a exibir regularmente no Teatro Santa Roza. O incipiente mercado se estabilizou e tomou algum impulso a partir de 1907, quando os primeiros filmes de ficção chegaram a capital e o interior viu surgir suas primeiras salas de exibição. As primeiras produções locais apareceram em 1918 pelas mãos de Pedro Tavares, fotógrafo do governo do Estado, que registrou por pouco tempo, além de obras governamentais, os principais acontecimentos da época.
O cinema paraibano ganhou vulto com a obra de Walfredo Rodriguez, que realiza em 1923 o documentário Carnaval Paraibano e Pernambucano, e inicia em 1924 Sob o Céu Nordestino, considerado seu mais importante trabalho. Concluído em 1928, veio a se constituir, na opinião de críticos e cineastas, num marco etnológico dentro do cinema brasileiro, por retratar pioneiramente e sem exoterismo a cultura popular nordestina. Tal feito rendeu-lhe o título de Pai do Cinema Paraibano. Da obra restaram alguns fragmentos, utilizados por Wladimir Carvalho em Homem de Areia.
Com a introdução do som, cessou a atividade cinematográfica no Estado, havendo lenta retomada com a criação, pelo governador José Américo de Almeida, do Serviço de Cinema Educativo em 1955, cujos filmes estavam a cargo de João Córdula, e com o movimento cineclubista. Com a criação do primeiro cineclube, 1952-1953, iniciativa de José rafael de Menezes e dos padres Antônio Fragoso e Luís fernandes, surgiu um pólo aglutinador das discussões teóricas e estéticas em torno de um cinema paraibano. Como conseqüência, aparece em 1955 a Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba (ACCP), contemporânea da Universiidade Federal da Paraíba (UFPB).
O final da década de 50 foi marcado, sobretudo pela constituição de uma nova cinematografia, embrião imediato do chamado cinema novo. Foi o momento da realização de Aruanda (1959-1960), de Linduarte Noronha, e da deflagração do Ciclo do Documentário Paraibano, que durou de 1959 a 1979. Aruanda representou a afirmação do cinema paraibano no panorama nacional e impulsionou a produção no Estado, especialmente a documental. Despontal nomes como Wladimir Carvalho (O País de São Saruê, Conterrâneos Velhos de Guerra), João Ramiro de Melo (Romeiros da Guia, O Sósia da Morte), Ipojuca Pontes (Poética popular, os Homens do caranguejo) e muitos outros. Linduarte ainda realizou ,mais dois filmes: o curta documental O Cajueiro nordestino (1962) e o longa ficcional O Salário da Morte (1970).
A década de 60 contabilizou considerável aumento da produção de filmes, levando-se em conta as dificuldades para obtenção de equipamentos, recursos e profissionais especializados. A maior parte dos filmes foi feita por equipes integradas por no máximo quatro pessoas. As dificuldades iriam se acentuar com o tempo e nos aos 70 os principais protagonistas do ciclo deflagrado em 1959 migrariam para outros estados. Em movimento contrário, a cultura e a literatura paraibanas atrairiam, na mesma época, cineastas do Sul do país, resultando em três longas-metragens de ficção: Menino de Engenho, de Walter Lima Jr., feito em 1965 a partir da obra de José Lins do Rego; Soledade, filmado por Paulo Thiago em 1976 com base em A bagaceira, de José Américo de Almeida; e Fogo Morto, rodado por Marcos Farias no mesmo ano, adaptação da obra homônima de José Lins do Rego.
O movimento local se reanimou com a realização da VII JORNADA BRASILEIRA DE CURTA-METRAGEM, em 1979, durante a qual se discutiu a criação de um pólo cinematográfico paraibano, o que nunca aconteceu, apesar do prometido financiamento da EMBRAFILME e do governo do Estado.O que de concreto a jornada produziu foi a criação do Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC). Graças a um convênio de cooperação técno-cultural feito entre a UFPB e o Centro de Formação de Cinema Direto de Paris (Association Varan), que previa a implantação de um ateliê de cinema direto de João Pessoa e o estágio dos alunos locais na capital francesa, o NUDOC conseguiu comprar equipamentos áudio-visuais, tornando-se co-produtor de vários filmes realizados no Estado nos anos 80. O projeto, que tinha a sua frente o diretor do Comitê de Filme Etnográfico da França, Jen Rouch, consistia na aquisição de um sistema completo de produção em bitola Super-8. A proposta acabou por dividir os cineastas locais, que acreditavam as metas estabelecidas pos Rouch divergiam das propostas traçadas pela geração documentarista dos anos 60. Estes viam no NUDOC a possibilidade da retomada da produção em bitolas mais profissionais. Foi nesse clima de desencontros consensuais que a Paraíba inaugurou a fase chamada de superoitista.a bitola amadora dinamizou o processo de produção, permitindo aos novos cineastas uma experimentação mais intensa da ficção. Pouco antes, a cidade de campina Grande havia se tornado um razoável pólo de produção e discussões cinematográficas. Esta girou em torno da criação do Cinema de Arte e contou com nomes como Bráulio Tavares, José Umbelino Brasil e os irmãos Rômulo e Romero Azevedo. Aquela teve em Machado Bittencourt e na sua CINÉTICA FILMES LTDA, um dos raros estúdios cinematográficos do país especializados em 16 mm, uma base segura para realização de diversos curtas experimentais e dois longas de ficção, Maria Coragem (1977) e O Caso Carlota (1981). Machado foi ainda um dos fundadores da Fundação nordestina de cinema (FUNCINE), fechada com a extinção da EMBRAFILME em 1990.Ao longo dos anos 80, com o apoio da FUNAPE, órgão vinculado à UFPB, realizaram-se ainda alguns curtas documentais e semidocumentais na mesma bitola 16 mm. Cinema Paraibano 20 Anos (1983) e Nau Catarineta (1987), ambos de Manfredo Caldas; Parahyba (1985), de Machado Bittencourt; 24 Horas (1986), de Marcus Vilar, Itacoatiara - a Pedra no Caminho (1987, de Torquato Joel; Carnaval Sujo (1987-19880, Palácio do Riso (1989) e Reino de Deus (1989), este da cineasta Vânia Perazzo, em co-produção com a Bulgária. Vilar, Joel e Perazzo foram formados pelo Ateliê Varan de Paris.
A década de 90 apresenta novamente uma queda acentuada na produção. O único filme apresentado é Viagem a São Saruê, de João de lima e Everaldo Vasconcelos, iniciado em 1987 e concluído em 1995.





Fonte: RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luiz Felipe. Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo, Editora Senac, 2000.

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