

O cinema paraibano ganhou vulto com a obra de Walfredo Rodriguez, que realiza em 1923 o documentário Carnaval Paraibano e Pernambucano, e inicia em 1924 Sob o Céu Nordestino, considerado seu mais importante trabalho. Concluído em 1928, veio a se constituir, na opinião de críticos e cineastas, num marco etnológico dentro do cinema brasileiro, por retratar pioneiramente e sem exoterismo a cultura popular nordestina. Tal feito rendeu-lhe o título de Pai do Cinema Paraibano. Da obra restaram alguns fragmentos, utilizados por Wladimir Carvalho em Homem de Areia.

O final da década de 50 foi marcado, sobretudo pela constituição de uma nova cinematografia, embrião imediato do chamado cinema novo. Foi o momento da realização de Aruanda (1959-1960), de Linduarte Noronha, e da deflagração do Ciclo do Documentário Paraibano, que durou de 1959 a 1979. Aruanda representou a afirmação do cinema paraibano no panorama nacional e impulsionou a produção no Estado, especialmente a documental. Despontal nomes como Wladimir Carvalho (O País de São Saruê, Conterrâneos Velhos de Guerra), João Ramiro de Melo (Romeiros da Guia, O Sósia da Morte), Ipojuca Pontes (Poética popular, os Homens do caranguejo) e muitos outros. Linduarte ainda realizou ,mais dois filmes: o curta documental O Cajueiro nordestino (1962) e o longa ficcional O Salário da Morte (1970).
A década de 60 contabilizou considerável aumento da produção de filmes, levando-se em conta as dificuldades para obtenção de equipamentos, recursos e profissionais especializados. A maior parte dos filmes foi feita por equipes integradas por no máximo quatro pessoas. As dificuldades iriam se acentuar com o tempo e nos aos 70 os principais protagonistas do ciclo deflagrado em 1959 migrariam para outros estados. Em movimento contrário, a cultura e a literatura paraibanas atrairiam, na mesma época, cineastas do Sul do país, resultando em três longas-metragens de ficção: Menino de Engenho, de Walter Lima Jr., feito em 1965 a partir da obra de José Lins do Rego; Soledade, filmado por Paulo Thiago em 1976 com base em A bagaceira, de José Américo de Almeida; e Fogo Morto, rodado por Marcos Farias no mesmo ano, adaptação da obra homônima de José Lins do Rego.
O movimento local se reanimou com a realização da VII JORNADA BRASILEIRA DE CURTA-METRAGEM, em 1979, durante a qual se discutiu a criação de um pólo cinematográfico paraibano, o que nunca aconteceu, apesar do prometido financiamento da EMBRAFILME e do governo do Estado.O que de concreto a jornada produziu foi a criação do Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC). Graças a um convênio de cooperação técno-cultural feito entre a UFPB e o Centro de Formação de Cinema Direto de Paris (Association Varan), que previa a implantação de um ateliê de cinema direto de João Pessoa e o estágio dos alunos locais na capital francesa, o NUDOC conseguiu comprar equipamentos áudio-visuais, tornando-se co-produtor de vários filmes realizados no Estado nos anos 80. O projeto, que tinha a sua frente o diretor do Comitê de Filme Etnográfico da França, Jen Rouch, consistia na aquisição de um sistema completo de produção em bitola Super-8. A proposta acabou por dividir os cineastas locais, que acreditavam as metas estabelecidas pos Rouch divergiam das propostas traçadas pela geração documentarista dos anos 60. Estes viam no NUDOC a possibilidade da retomada da produção em bitolas mais profissionais. Foi nesse clima de desencontros consensuais que a Paraíba inaugurou a fase chamada de superoitista.a bitola amadora dinamizou o processo de produção, permitindo aos novos cineastas uma experimentação mais intensa da ficção. Pouco antes, a cidade de campina Grande havia se tornado um razoável pólo de produção e discussões cinematográficas. Esta girou em torno da criação do Cinema de Arte e contou com nomes como Bráulio Tavares, José Umbelino Brasil e os irmãos Rômulo e Romero Azevedo. Aquela teve em Machado Bittencourt e na sua CINÉTICA FILMES LTDA, um dos raros estúdios cinematográficos do país especializados em 16 mm, uma base segura para realização de diversos curtas experimentais e dois longas de ficção, Maria Coragem (1977) e O Caso Carlota (1981). Machado foi ainda um dos fundadores da Fundação nordestina de cinema (FUNCINE), fechada com a extinção da EMBRAFILME em 1990.Ao longo dos anos 80, com o apoio da FUNAPE, órgão vinculado à UFPB, realizaram-se ainda alguns curtas documentais e semidocumentais na mesma bitola 16 mm. Cinema Paraibano 20 Anos (1983) e Nau Catarineta (1987), ambos de Manfredo Caldas; Parahyba (1985), de Machado Bittencourt; 24 Horas (1986), de Marcus Vilar, Itacoatiara - a Pedra no Caminho (1987, de Torquato Joel; Carnaval Sujo (1987-19880, Palácio do Riso (1989) e Reino de Deus (1989), este da cineasta Vânia Perazzo, em co-produção com a Bulgária. Vilar, Joel e Perazzo foram formados pelo Ateliê Varan de Paris.
A década de 90 apresenta novamente uma queda acentuada na produção. O único filme apresentado é Viagem a São Saruê, de João de lima e Everaldo Vasconcelos, iniciado em 1987 e concluído em 1995.
Fonte: RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luiz Felipe. Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo, Editora Senac, 2000.
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